terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O suíno natalino

Na noite de Natal Arnaldo apareceu na casa de sua noiva Luciana com um porco. Na verdade era um leitão, um pequeno leitãozinho. Vivo, por sinal. O pai de Luciana Sr Vieira, foi o primeiro a se manifestar
'Pôxa...excelente idéia Arnaldêra...' Sr Vieira , taxista haviam quarenta anos, sempre chamava o rapaz assim, Arnaldêra. '...vai ser o prato principal do ano novo' Disse o velho taxista enquanto piscava o olho para o rapaz.
'Não Seu Vieira...' Disse Arnaldo meio sem jeito '...o animalzinho é um presente pra Lu...'
Luciana por sua vez não sabia o que dizer, nunca havia ganhado um porco de presente. Na verdade, nunca havia tido animal nenhum. Nem mesmo aqueles peixinhos dourados de parque de diversão, nunca, sua mãe Dona Sônia detestava animais de todos os tipos 'Os peludos, os escamosos, os empenados...' Dizia ela '...foram feitos pelo criador para ficarem soltos, não dentro de casa. A besta não deve habitar onde habita o homem'. Ela dizia. Dizia que estava na bíblia, mas nunca soube dizer onde. Detestou o porco desde o momento em que bateu os olhos nele 'Animal sujo' Disse Dona Sônia. 'certos estão os judeus de abominarem esse bicho.
Arnaldo ficou sentido,mas insistiu que o animalzinho tinha suas qualidades, aliás, inúmeras segundo ele.
'Vejam bem, porcos são mais inteligentes que cães, tem o faro mais apurado e não são animais sujos como se pensa, são excelentes animais de estimação.' Defendeu o rapaz 'E além disso são excelente companhia'
'E são deliciosos assados' Completou Sr Vieira 'Esse quando estiver gordinho'
'Mas nem pensar' Rebateu Arnaldo 'O Delfim não vai virar assado!!'
'Você deu nome pra um porco Arnaldo??' Respondeu Luciana inconformada 'Eu não acredito'
'Não é um simples porco amorzão!! É o Delfim, ele é um porco especial!!'
'E o que ele tem de especial Arnaldo??'
Arnaldo não soube responder na hora. Na verdade não havia resposta para aquilo. Fora o nome, Delfim era um porco comum. Tão ou mais comum que qualquer outro porco. Um porco. E só. Porém Arnaldo, impávido e resoluto defendeu sua posição.
'O Delfim é um excelente presente!! E vai ser um excelente animal de estimação se lhe derem amor e carinho!!!'
Sr. Viera riu até não agüentar ' Amor e carinho?? Prum porco Arnaldêra?? hahahah Essa foi ótima rapaz!!'
'Todos os animais merecem respeito Sr. Viera' Replicou Arnaldo 'É um ser vivo como nós'
'Chega!!!' Gritou Luciana 'O namorado é meu, e o porco aparentemente também!! Então eu resolvo isso!! Tudo mundo pra dentro!!'
Dona Sônia gritava desesperadamente 'Eu não quero esse animal na minha casa!! De jeito nenhum!!!'
Sr. Vieira pondo a mulher para dentro dizia 'Sônia fica quieta, deixa a menina resolver isso.'Antes de entrar olhou para o porco e disse para sí mesmo 'Que pururuca esse ai daria...'
A moça ficou no portão com Arnaldo e Delfim tentando entender a situação e se perguntando porque com ela. O que ela havia feito para merecer aquilo. Arnaldo sempre fora um rapaz bom e para todos os efeitos 'normal'. O que ele queria com aquilo? Arruinar tudo?? Acabar com sua reputação de rapaz bom direito e de família?
'Porque Arnaldo? Porque um porco??'
'O nome dele é Delfim...é um porco especial ele...
'Chega Arnaldo!!' Respondeu Luciana 'Chega dessa loucura. Suma daqui, não quero ver voce nem esse porco nunca mais!!!'
'Mas Lu...amor...'
'Chega Arnaldo suma daqui agora!!' Gritou Luciana Novamente
'Se quiser pode deixar o porquinho ai Arnaldêra' Disse Sr. Vieira esperançoso.

Arnaldo não deixou o porco. Levou o animalzinho com ele. No banco do passageiro de seu Passat 86. Parou num bar, o único aberto na noite de Natal. Havia uma faixa sobre a porta dizendo 'Bar Ultima chance. Lar dos corações solitários'
O rapaz entrou pela porta do Ultima chance com o porco ao seu lado. Era realmente um animal fiel e inteligente como ele dizia. Os dois barmen no lugar não acreditaram no que viram. Por mais estranhas que fossem as pessoas no Ultima na noite de natal, ninguém entrava ali sequer com um cachorro, que dirá com um porco...
'Isso ai é um porco amigo??' perguntou Nelson o ajudante de bar enquanto secava um copo tumbler.
'É sim...o nome dele é Delfim' respondeu Arnaldo
'Que nem o Delfim Neto?' Disse Pedro o chefe do bar 'Gostei do nome...vai tomar o que rapaz?'
'Uma Cuba Libre acho...' Respondeu Arnaldo sem jeito.

Edna entrou no bar naquele momento. Eram onze e vinte da noite e ela tinha sido liberada mais cedo do turno da noite na loja de conveniência do posto de gasolina onde trabalhava. Sem família na cidade, a moça foi 'comemorar' o natal no Ultima Chance, o lar dos corações solitários.
Quando Edna entrou, Arnaldo e Delfim lhe chamaram a atenção. O pessoal no Ultima Chance era estranho, mas um cara com um porco do lado?? Parecia demais até para aquele bar.
'Belo porco...é para a ceia?' perguntou a moça
'Não...é de estimação...'
'Estimação? Então ele tem um nome certo??'
'Tem sim, é Delfim'
'Delfim? Adorei o nome, o meu é Edna e o seu?'
'É Arnaldo...'
'Arnaldo, Delfim e Edna...sabe, acho que é o começo de uma amizade'
Naquele instante o relógio do Ultima Chance bateu meia noite. Era natal. Pedro se aproximou do trio e estendeu duas taças de Kir Royal.
Feliz Natal pessoal
Feliz Natal responderam os dois
Óinc...respondeu Delfim

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