quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Remoção de resíduos

Certo, esse cara tinha um emprego realmente horrível, mais horrível do que qualquer coisa que alguém possa acabar pegando no desespero, mas que apesar de tudo pagava relativamente bem em comparação com outros serviços.
O nome desse cara era Walter, e ele era técnico de remoção de resíduos hospitalares, o que significa que ele era o lixeiro do hospital. No começo era tranqüilo, tirava fraldões sujos, esparadrapos e bandagens, e isso era o máximo que fazia, mas depois de um certo tempo, o cara tinha que começar a tirar dedos amputados, braços gangrenados e outras coisas que por respeito era melhor não comentar, mas que Walter e o Barata, o cara que dirigia a van da remoção de resíduos, já não se importavam mais em ver ou comentar.
'Que merda você jogou ali Walter?' Perguntava o Barata
'Só mais uma perna' Respondia o Walter
'Deve ser foda perder uma perna'
'Sobretudo pra quem perde né?'
'Pô isso me lembrou uma coisa, oque acha de parar naquela churrascaria?'
'É...boa idéia...será que ainda fazem perna de porco?'
'Sei lá...não como porco...'
'Porra você é judeu Barata?'
'Não caceta...eu só não curto porco véio...'
A hora do almoço passou e eles não pararam em lugar nenhum. O Barata largou o Walter na porta do prédio dele no centro quando bateu seis e meia da tarde no relógio da catedral.
O prédio onde o Walter morava era uma bela de uma espelunca, onde nada funcionava direito, a metade dos moradores tinha subempregos horríveis, ou nenhum emprego, e a outra metade eram prostitutas e travestis velhos que só marcavam programas por telefone. Daqueles que colam adesivos nos orelhões.
Aquele prédio devia ter uns cem anos de idade, e aparentava ter uns duzentos de tão mal conservado que estava, totalmente abandonado. Quando chovia, a goteira de um apartamento atravessava o piso e caia no apartamento de baixo.
Os aluguéis eram ridiculamente baixos, o condomínio era ainda mais barato, logo o prédio era atulhado de gente esquisita que formava uma vizinhança horrível. Mas Walter nem se importava. Ele vivia ali sozinho, sem ninguém para incomodar, só ele seus trecos velhos e seu Opalão dourado 'setenove' que ficava no estacionamento do outro lado da rua. Trinta contos por mês, mas o cara do caixa fazia por vinte e cinco.
No apartamento de frente morava uma turma no mínimo curiosa. Pareciam um tipo de família desfuncional. Como os apartamentos eram relativamente grandes ali, muitas pessoas acabavam vivendo neles, e naquele em particular moravam duas prostitutas, e um travesti velho que tinha duas bolotas estranhas de silicone como peitos. O cara era tão velho que deve ter sido travesti na babilônia, talvez o primeiro da civilização.
Naquela noite em que o Barata deixou Walter em casa, ele ouviu um barulho esquisito no apê da turma da pesada. Ele estava pegando uma cerveja na cozinha quando escutou tudo, era uma conversa. Um velhinho dizia assim:
'Porra, eu não acredito!! Seu grandessíssimo filho de uma puta!! Você não me disse nada!!'
'Eu achei que você soubesse vovô...'
'No seu anúncio não dizia nada disso!! Dizia 'Shirley bunduda dote 35!!!'
'Exatamente tio...nem um centímetro à menos...'
'Cacete esse é o problema viado!!!'
'O cacete é o problema??'
'Mas é claro que é!!! Eu achei que você fosse mulher!!!'
'Peraí vovô, o que você vai fazer com isso??'
'Se você quer se mulher, não precisa disso'
Walter ouviu um grito horroroso vindo do apartamento. A porta bateu, e logo em seguida alguém praguejou contra o elevador. Uma hora depois, o andar estava cheio de policiais. Dois peritos da polícia chegaram e examinavam o local, depois de uns vinte minutos, estavam conversando na porta do apartamento de Walter.
'Putz, esse se fodeu bonito ein? Sangrou até morrer...'
'Também arrancaram o pau do cara com uma torquês...'
'É...e a gente tem que examinar isso...'
'É... mas tem serviço pior...'
'É? Tipo qual??'
'Imagina o coitado do filho da puta que tem que recolher aquela caceta morta do chão...deve ser uma merda ter que pegar aquilo e levar embora...'
'Sobretudo pra quem leva' Pensou Walter enquanto olhava o céu da cidade pela janela.

Um comentário:

  1. Putz hahhahahahhaha muito, muito, muito bom amor...gostei mesmo, sério haahahahha
    Bjinhosssssssssssss =P

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